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Vem aí “Uma confissão”, de Liev Tolstói, um clássico da literatura universal em nova tradução

Saiba mais sobre a novidade em entrevista exclusiva com Daniel Faria, editor da MCS

Em fevereiro, a Mundo Cristão lança Uma confissão, de Liev Tolstói, um clássico da literatura. O lançamento, uma das principais novidades do catálogo 2017 da MC, traz tradução exemplar de Rubens Figueiredo, romancista e tradutor duas vezes premiado com o Prêmio Jabuti de Literatura que também prefaciou a edição.

Uma confissão registra a intensa crise de fé de Tolstói quando, em 1879, já tendo escrito duas das mais aclamadas obras da literatura universal, Guerra e Paz e Anna Kariênina, se questiona sobre o sentido da vida e é confrontado com sentimentos suicidas.

No livro, Tolstói narra a sua busca por respostas às questões mais centrais da existência, a redescoberta da fé e o despertar espiritual que viveu. Fugindo da dogmática ortodoxa e da rigidez legalista, o aclamado autor percebe a grandeza da fé na vida de pessoas simples. O registro fornece valiosos insights sobre a experiência humana da dúvida, do desespero e da falta de fé.

Com o intuito de oferecer mais informações aos nossos leitores sobre a novidade, conversamos com Daniel Faria, editor da Mundo Cristão. Na entrevista, Daniel compartilha curiosidades sobre o contexto histórico da obra, fala da relevância de Uma Confissão para os leitores de nossos dias e expõe detalhes que fazem desse lançamento uma publicação especial. Confira!

Mundo Cristão: Quem foi Liev Tolstói e qual a sua importância na Literatura Universal?

Daniel Faria: Na minha visão, e sei que muitos concordam comigo, Liev Tolstói é simplesmente o maior nome da literatura universal de todos os tempos. Autor de ensaios, contos, novelas e romances, incluindo as obras-primas Anna Kariênina e Guerra e paz, obteve reconhecimento sobretudo por sua ampla compreensão do espírito humano. Seus personagens representam a contradição da existência: uma combinação de bondade e maldade, desejo e fracasso, alegria e tristeza.

Em que contexto histórico Tolstói viveu e como isso influenciou sua visão de mundo e o conteúdo de seus escritos?

Tolstói nasceu em 1828, em Iásnaia Poliana, a rica propriedade rural de sua família, na Rússia, e morreu em 1910. É inevitável, portanto, que o ambiente russo do século 19 tenha influenciado seus textos.

Uma nação absolutista sob a liderança do czar, a Rússia de seu tempo era extremamente desigual, quase medieval, com a nobreza e o clero de um lado e a grande maioria da população camponesa, vivendo em condições precárias, do outro. De origem nobre e dono de muitos servos, o próprio Tolstói, um defensor das classes mais necessitadas, simbolizava essa contradição.

Vale dizer, no entanto, que a razão da perenidade de suas obras é justamente seu caráter atemporal. Não à toa, ainda hoje leitores de Tolstói conseguem se reconhecer nas aflições de seus personagens, embora vivamos em contextos muito diferentes. É uma única e mesma humanidade, afinal.

Ele era cristão?

Do próprio ponto de vista, sim, ele se considerava um seguidor de Cristo. É evidente que sua proposta de cristianismo já era polêmica no ambiente russo do século 19 — tanto que ele foi excomungado pela Igreja Ortodoxa de seu tempo.

Para os cristãos brasileiros atuais que professam uma fé evangélica, pode haver algum estranhamento. Não há dúvida, porém, de que seu contato com a fé resultou numa grande transformação de vida, como relatado em Uma confissão.

A MC lança ao público brasileiro uma nova tradução de “Uma confissão”, um clássico do autor. De que trata a obra?

Como sugere o próprio título, trata-se de uma declaração do autor a respeito de sua jornada de vida até a fé cristã. A semelhança com as Confissões de Agostinho é nítida. Escrito em 1879, quando Tolstói tinha 51 anos e já havia publicado suas obras mais famosas, o livro narra como o autor se viu diante de uma severa crise existencial.

Ele não via sentido na vida, o que o fez pensar em suicidar-se. A busca de alguma resposta o levou a diferentes caminhos, até que por fim ele encontrou a fé, que lhe proporcionou uma nova maneira de enxergar a existência. É essa a história contada em Uma confissão.

Por que o livro, mais de um século depois de sua publicação oficial, em 1906, ainda continua sendo objeto de estudo e admiração de leitores em todo o mundo?

Por diversos motivos. Primeiro, sempre existiu um interesse público pela vida de fé dos grandes nomes da humanidade, e Tolstói é um deles. Segundo, a qualidade do texto, com suas ricas analogias, atrai todo apreciador de literatura.

Terceiro, e talvez o mais importante, os dilemas existenciais apresentados pelo autor continuam a afligir muitos em nosso tempo. Se a resposta que ele encontrou lhe foi satisfatória, talvez também seja para tantos de nós, hoje, que empreendemos uma busca semelhante pelo sentido da vida.

Quais insights as crises e as confissões de Tolstói oferecem ao cristão do século 21 que busca aprofundar as raízes de sua fé e comunhão com Deus?

Existe quase um paradoxo em Uma confissão que, a meu ver, é extremamente relevante para os nossos dias. Tolstói buscou respostas para as grandes questões da vida na ciência, na filosofia, na arte, e nada encontrou. Foi na fé do povo simples da Rússia, camponeses que, mesmo sob duras condições, reagiam aos sofrimentos da vida com devoção a Deus, que ele descobriu uma nova possibilidade de vida.

Ou seja: nem todos os saberes humanos juntos são capazes de desvendar a complexidade da fé, porém os mais simples têm livre acesso a ela. É uma lição de humildade à Igreja de hoje, muitas vezes perdida nos mais estéreis debates em vez de simplesmente praticar a fé no dia a dia.

O livro em alguns pontos chega a ser polêmico em razão de sua crítica à Igreja Ortodoxa e ao tipo de cristianismo vivido pela burguesia da época. O que é preciso ter em mente ao ler tais conteúdos?

Como dito anteriormente, a nação russa do século 19 vivia sob um regime absolutista, e a Igreja Ortodoxa colaborava para a manutenção de uma sociedade desigual. No entendimento de Tolstói, a fé cristã ortodoxa e os ensinamentos de Cristo eram incompatíveis, pois a Igreja sustentava a injustiça.

Mas é necessário levar em conta que Uma confissão é um relato honesto sobre as dúvidas que perturbavam o autor. Não é uma obra apologética ou doutrinária; pelo contrário, é um coração aberto expondo suas incoerências, angústias e inquietações. Seu valor reside justamente nisso.

O que os leitores podem esperar da obra, agora relançada com nova tradução de Rubens Figueiredo?

É um privilégio, para a Mundo Cristão, publicar um clássico de Tolstói com a tradução de Rubens Figueiredo. Acredito que ele seja, hoje, um dos principais tradutores do Brasil, se não o maior. Basta dizer que ele verteu recentemente para o português, com excelência, as duas maiores obras de Tolstói, Anna Kariênina Guerra e paz. 

Sua competência, aliada ao cuidado que a Mundo Cristão sempre dedica a seus projetos, tornam Uma confissão um dos lançamentos mais preciosos de nosso catálogo para 2017. O leitor terá à disposição um verdadeiro clássico, em diversos aspectos.

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