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O poder da imaginação

Daniel Faria, editor do time MC, fala sobre o seu trabalho no Departamento Editorial e compartilha a experiência de editar O enigma da Bíblia de Gutenberg

Nestes sete anos em que integro o departamento editorial da Mundo Cristão, tive o privilégio de editar algumas das obras mais importantes da minha formação espiritual. Discipulado, de Dietrich Bonhoeffer, levou-me a um compromisso maior com a fé. Uma confissão, de Liev Tolstói, serviu-me como companheiro de jornada nos momentos de dúvidas e anseios não respondidos. A pergunta que não quer calar, de Philip Yancey, confortou-me em meio à angústia de viver num mundo em que o sofrimento se faz tão terrivelmente presente.

E não posso me esquecer de mencionar a dádiva sem igual que foi atuar no processo de edição da Nova Versão Transformadora (NVT). Ao lado de uma brilhante equipe de tradutores, dedicamos seis anos analisando literalmente cada palavra da Palavra de Deus. O resultado foi abençoador na minha vida e, acredito, tem sido abençoador também na vida de milhares de leitores.

Aqui, no entanto, meu intuito é prestar reconhecimento a uma obra que, em sua singeleza e sagacidade, me fez lembrar um dos principais motes da literatura: o poder revelador da imaginação. Refiro-me a O enigma da Bíblia de Gutenberg, obra de ficção para adolescentes escrita por meu talentoso amigo Maurício Zágari.

Autor de obras bem-sucedidas como Perdão totalO fim do sofrimento e Confiança inabalável, todas elas voltadas para a instrução e o aconselhamento na vida cristã, Maurício é também editor de livros nacionais da Mundo Cristão. Isso significa que, no caso de suas obras, eu assumo o papel de editor, tarefa que consiste basicamente em não interferir no que, ao chegar às minhas mãos, já está praticamente pronto para publicação.

O enigma da Bíblia de Gutenberg é um livro surpreendente. As aventuras em que se envolve Daniel, o jovem protagonista, a fim de desvendar o misterioso furto de uma Bíblia raríssima são eletrizantes. Em certo momento do trabalho de edição, ocorreu comigo algo incomum, que só posso definir como um momento especial: eu simplesmente deixei de lado minhas atribuições editoriais (analisar coesão das frases, sugerir vocábulos mais precisos, corrigir equívocos gramaticais etc.) e segui adiante na leitura, intrigado com o enredo e ansioso pelo desfecho da história.

Lembrei-me de mim mesmo na infância, em Gália, minha cidade natal, no interior de São Paulo. Eu passava horas e horas na biblioteca municipal, lendo os volumes da saudosa coleção Vaga-Lume, uma série de livros infanto-juvenis publicados pela editora Ática. Foram aquelas histórias simples e inesquecíveis que despertaram em mim a imaginação literária, essa capacidade de entrar em realidades distintas daquela em que eu vivia e sair delas enriquecido com uma visão de mundo mais vibrante e abrangente.

Essa sensação eu tive novamente, depois de muitos anos, ao editar O enigma da Bíblia de Gutenberg. Conceitos fundamentais da fé — a perseverança, o perdão, a busca pela verdade — ganhavam vida diante dos meus olhos, e tudo isso sem proselitismo mal disfarçado, sem didatismo doutrinário, mas tão somente pela força da imaginação decorrente de uma história bem contada, estrelada por personagens cativantes e repleta de ação e suspense.

Tenho plena convicção da força da lógica, da razão, do argumento bem fundamentado. No entanto, creio que nós, cristãos, deveríamos confiar mais vezes no poder da imaginação para ilustrar ao mundo o significado mais amplo das verdades do cristianismo. Foi exatamente Jesus Cristo quem recorreu sobretudo a histórias para explicar os mistérios da fé a seus discípulos. E foi o Deus criativo que fez os céus e a terra que nos dotou desse maravilhoso dom que é a imaginação.

Pautado, sim, por uma visão de mundo cristã, mas sem dispensar o poder revelador da literaturaO enigma da Bíblia de Gutenberg é uma verdadeira preciosidade. Uma obra capaz de instruir e divertir. (E, apenas para esclarecer, a decisão de dar o nome Daniel ao protagonista coube total e exclusivamente ao autor.)

Daniel Faria
Editor Assistente


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