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Ecologia e prática de vida cristã: Por que o assunto deve estar nos púlpitos?

Em entrevista à MC, Tássia Maiara Tuller, engenheira química engajada em projetos de reciclagem, fala sobre essa questão que não pode passar despercebida pela igreja

Todos os anos, mais de 7 milhões de pessoas morrem em decorrência da poluição do ar. Neste exato momento — com toda informação e tecnologia de que dispomos — quase 1 milhão de espécies de animais e plantas correm risco de extinção. A situação é aterradora e preocupante.  

Ecologia e igreja cristã

É tempo de a igreja perceber a importância dessa delicada realidade e engajar-se em ações que visam ao melhor uso dos recursos naturais. Ao fazer algo a favor da vida, o cristão também cumpre sua missão de ser uma bênção. Aliás, como mordomo das infinitas bênçãos de Deus, é imperativo que seja consciente em relação ao modo como explora a terra.

Dentre os diversos conteúdos que a MC está publicando sobre a questão da responsabilidade ecológica, entrevistamos Tássia Maiara Tuller, engenheira química com atuação em projetos voltados à reciclagem, tanto no âmbito corporativo quanto na igreja. Em sua comunidade, A Casa da Rocha, no bairro do Ipiranga, em São Paulo, Tássia iniciou projetos de sustentabilidade, abarcando medidas como a coleta de óleo e materiais escolares usados, entre outras atividades.

No bate-papo, por meio de três questões-chave, a especialista fala sobre a importância da pauta ambiental para a igreja e dá insights de como qualquer pessoa interessada pode começar a fazer a diferença. Confira.  

Mundo Cristão: Por que a igreja deve incentivar o cuidado ecológico? De que forma tal reflexão está alinhada com o chamado cristão de cuidar da terra?

Tássia Maiara Tuller: Como Igreja, devemos entender que o cristianismo começa com “no Princípio criou Deus os céus e a Terra”, e que tudo que ele criou é muito bom. Não só Adão recebeu o mandato cultural de cuidar da criação, mas toda a humanidade que surgiu a partir dele. Deus deu esse mandato ao seu povo. Devemos entender que a obediência a essa ordem é tão necessária quanto qualquer outra aparentemente mais transcendental.

Com a queda, o pecado manchou não somente nossa espiritualidade, mas todas as outras relações humanas. Deixamos de refletir a imagem de Deus em nosso domínio da terra e contradizemos nosso próprio ser. Já não nos preocupamos com a criação. Em vez de preservá-la e desenvolvê-la, nós a destruímos e exploramos. Governamos a terra em desobediência.

Quando Cristo nos redime, não se trata apenas da alma. A salvação é abrangente, ou seja, ela engloba a totalidade da vida humana e a totalidade da criação não-humana, ambas são objetos da obra restauradora de Deus. Ele pretende tomar nada menos do que o mundo inteiro como seu reino. (“A visão Transformadora” — Brian J. Walsh/ Richard Middleton. Ed. Cultura Cristã).

Devemos pensar e agir de forma a externalizar aquilo que Deus fez em nós e por nós: somos seres redimidos e devemos ser agentes de remissão. Dessa forma, a igreja deve instruir os fiéis sobre a responsabilidade de cada um como Imago Dei na Criação. Devemos nos importar com as questões ambientais e parar de delegar isso aos outros, como se isso não nos dissesse respeito.

“Devemos nos importar com as questões ambientais e parar de delegar isso aos outros, como se isso não nos dissesse respeito.”

Tássia Maiara Tuller

Em sua opinião, por que o tema é ainda tão pouco falado nos púlpitos? Quais benefícios o engajamento ecológico traria para as comunidades? Isso de alguma forma se alinha à Grande Comissão?

Em algum lugar da história, nós particionamos nossas vidas em áreas: certas coisas foram colocadas dentro da caixa do sagrado e transcendente; outras dentro da caixa do “secular”. Essa ideia impregna as nossas igrejas até hoje, e o mesmo pensamento foi e é causa de diversos problemas. Um dia nós abrimos mão de influenciar a música, a pintura, a política, a educação, a economia e a ciência e sofremos as consequências desse afastamento. O mesmo aconteceu com nosso senso de mordomia do que Deus criou. Por não ser considerado um assunto espiritual, ele não é dito assunto para pregação.  

No entanto, se o povo de Deus entender que a obediência a esse mandato também é importante, e que não é apenas uma questão secular e arbitrária, teríamos pessoas mais conscientes e cuidadosas dentro e fora da congregação. Isso geraria um impacto fortemente positivo para a sociedade como um todo. Se a igreja consegue ser tão relevante em trabalhos sociais, por que não em projetos ambientais?

Tudo o que fazemos em Cristo tem frutos para a eternidade. Seja um ato extraordinário, seja o simples ato de separar os recicláveis dos orgânicos ao jogar fora o seu lixo.  

Quais conselhos daria a quem pretende iniciar algo (trabalho, ministério, mobilização) nesse sentido?

Oração e envolvimento com os trabalhos da igreja na comunidade são um bom começo para quem quer entender como iniciar algum projeto de característica ecológica (ou qualquer outro, na verdade). A maioria dos projetos ambientais não dizem respeito apenas ao meio ambiente mas também às pessoas e ao seu bem estar.

Procure entender a dor da comunidade em que sua igreja está instalada: como é a gestão de resíduos da região? Há coleta seletiva no bairro? Há catadores ou cooperativas na região? As pessoas da sua igreja entendem o que é reciclável ou não? Há pessoas que vivem do lixo ou da venda de recicláveis? Como cooperar com essa geração de renda?

Procure engajar os membros com informativos e programas de coletas para benefício dos projetos sociais da igreja, e assim por diante.

Há diversos projetos de “Logística Reversa” (reciclagem), nos quais pessoas físicas e jurídicas podem participar de modo a trazer enriquecimento cultural e ambiental. Muitas empresas e marcas lançam programas de reciclagem que podemos abraçar e nos engajar.

Há pouco tempo, a igreja em que congrego iniciou um programa de coleta de óleo usado. Entramos em contato com uma instituição que recebe esse resíduo e devolve barras de sabão em troca. A cada 2 litros de óleo, nós recebemos 2 barras de sabão. Esse material de limpeza servirá para compor as cestas básicas que distribuímos todo mês para as famílias cadastradas no projeto social da comunidade. Uma ideia simples, mas que significa muito para essas famílias, e para os milhares de litros de água que serão poupados dessa impureza. Comece com pouco, mas não deixe de começar!

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