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Augustus Nicodemus em entrevista à Mundo Cristão

Autor fala sobre seu novo livro “Polêmicas na Igreja” e aborda assuntos urgentes relacionados ao atual cenário evangélico brasileiro

Não há nada mais urgente do que um retorno às Escrituras. Somente isto trará verdadeiro avivamento espiritual à igreja brasileira. É com essa postura que o Reverendo Augustus Nicodemus convida os cristãos evangélicos ao exame cuidadoso de suas práticas e concepções.

Em pleno século 21, no qual uma infinidade de modismos, conceitos e “inovações teológicas” são ventilados e consumidos por públicos cada vez maiores, sobretudo por meio da Internet, o cristão precisa estar alerta a fim de manter sua integridade espiritual e não cair em engodos que possuem aparência de verdade. 

Autor de sucessos como O que estão fazendo com a Igreja, também lançado na Itália, e O ateísmo cristão e outras ameaças à IgrejaNicodemus, pastor, professor e vice-presidente da Igreja Presbiteriana do Brasil (PIB) tem sido uma eloquente voz na pregação da fé biblicamente fundamentada. 

Em entrevista à Mundo Cristão, o autor fala de seu novo livro Polêmicas na Igreja – Doutrinas, práticas e movimentos que enfraquecem o cristianismo, novidade que já está disponível nas livrarias de todo o país, e aborda questões urgentes relacionadas à igreja cristã evangélica brasileira.

Confira! 

Mundo Cristão: “Inovações teológicas”. Esse é um problema que o senhor diagnostica logo na introdução do livro. Como identificá-las? Elas são sempre prejudiciais? De que forma podem colocar em risco a integridade espiritual de seus praticantes?

Augustus Nicodemus: Precisamos definir “inovações teológicas” em primeiro lugar. Eu entendo o termo como uma referência a doutrinas e conceitos que não encontram respaldo e fundamento nas Escrituras e que são introduzidos na igreja cristã a pretexto de modernidade e progresso.

A rigor, a maior parte dessas “inovações” não tem nada de novo. Um bom exemplo disto é a chamada teologia relacional que em anos recentes se apresentou como uma novidade no campo teológico, pretendendo elucidar a questão da presciência de Deus e a liberdade humana.

Todavia, nada mais era que a reedição do socinianismo, nome dado a um ensinamento promovido por Lélio e Fausto Socínio no século XVI. Muitas dessas “inovações” são antigas heresias reapresentadas com linguagem nova. Da mesma forma, conceitos como Sola ScripturaSola Fide e Sola Gratia não foram inovações teológicas dos Reformadores do século XVI, mas a redescoberta do ensino de Pais da Igreja como Agostinho.

Eu não estou dizendo que não há campo para o novo em teologia. Desde que o que se apresenta como novo esteja em consonância com as Escrituras e represente uma compreensão mais clara e profunda das verdades que uma vez por todas já nos foram reveladas nas Escrituras.

“Inovações teológicas” entendidas como ensinamentos estranhos às Escrituras certamente afetam, cedo ou tarde, a integridade espiritual dos que os abraçam, pois o que liberta é a verdade e não o novo.

MC: O cristão brasileiro está a cada dia mais conectado com as novas ferramentas de comunicação e pesquisa. Muito provavelmente, na maioria das casas, sobretudo nas grandes cidades, há um aparelho conectado à internet. O acesso à Bíblia e à informação está cada dia mais facilitado. Por que, mesmo assim, tantas pessoas se deixam levar por modismos e desvios que contrariam a sã doutrina cristã?

Augustus Nicodemus: Porque falsos profetas e falsos mestres estão também usando estas ferramentas para divulgação de seus ensinamentos e trazendo confusão e dúvida para muitos. Embora a Bíblia esteja muito mais acessível hoje, o problema nunca foi acessibilidade, mas hermenêutica – como as pessoas leem e entendem a Bíblia?

Por outro lado, é preciso reconhecer que por causa das novas ferramentas de pesquisa e comunicação muitas pessoas também têm tido contato com o trabalho de pastores e mestres comprometidos com uma leitura sadia e correta da Bíblia.

Grandes teólogos e pastores como John Piper, R. C. Sproul, J. C Mahaney, Paul Washer, entre outros, são muito lidos no Brasil e o trabalho deles tem servido para orientar a muitos. 

MC: De acordo com o lema da Reforma, a Igreja está constantemente se reformando, e com ela, seus membros. Como ela pode se abrir para vivenciar tais reformas sem comprometer sua integridade?

Augustus Nicodemus: A reforma constante pregada pelos reformadores pressupunha o referencial das Escrituras: “Sola Scriptura”. O conceito de uma igreja reformada e sempre se reformando assumia que esta reforma consistia numa aproximação cada vez maior ao ensino da Bíblia, o que acarretava a necessidade de mudanças litúrgicas, teológica e práticas e o abandono de tudo que fosse “humano”, isto é, que tivesse sido inventado pelo homem e introduzido na igreja sem respaldo bíblico.

Isso foi, em grande medida, o que a Reforma protestante fez em relação à Igreja Romana de sua época. Os Reformadores entendiam que havia uma necessidade constante de reforma, pois todos eles concordavam com a doutrina da depravação total e da santificação como algo progressivo e inacabado neste mundo.

Assim, creio que a Igreja de hoje deve estar aberta para se examinar à luz da Palavra de Deus e se reformar naquelas áreas onde se desviou dela. Se conseguirmos manter o foco nas Escrituras, podemos avançar com segurança para mudanças que se fizerem necessárias. 

MC: Vivemos numa sociedade que prega a liberdade de expressão, mas que tenta calar aqueles que possuem convicções contrárias à sua perspectiva relativista e secular. Isso é fato. Como o senhor enxerga essa contradição? Ela tem chegado para o interior de determinadas correntes cristãs também? Quais as implicações disso?

Augustus Nicodemus: A contradição é, de fato, gritante. Ela reflete a verdadeira intenção daqueles que defendem liberdade de expressão para todos menos para os cristãos, que é calar o cristianismo e expulsá-lo da arena pública.

Infelizmente, eles já obtiveram sucesso na Europa e avançam nos Estados Unidos a passos largos. Aqui no Brasil já estamos sentindo a força desse movimento. Acho que é uma questão de tempo até enfrentarmos uma perseguição aberta e descarada.

Não me admira que denominações liberais persigam e calem os que protestam, por exemplo, contra o casamento gay e a ordenação de homossexuais ao ministério da Palavra. O liberalismo teológico não é cristianismo, mas outra religião. 

MC: No livro, o senhor diz que “vivemos dias de frouxidão, nos quais proliferam os que tremem diante de uma peleja teológica de maior monta”. “Perdeu-se a virilidade teológica.” Por que isso acontece? De que forma essa postura pode afetar a “saúde” da Igreja?

Augustus Nicodemus: Eu quis dizer que são poucos os líderes que estão dispostos a entrar numa peleja teológica para defender a verdade e resguardar o ensino das Escrituras.

Infelizmente, tenho a impressão que a maioria prefere se omitir e tratar de sua vida e de sobreviver em seu ministério. Não defendo e nem apoio aqueles briguentos de plantão que vivem somente no aguardo de uma oportunidade para iniciar polêmicas e conflitos nas redes sociais.

O que estou dizendo é que os pastores e mestres deveriam, de forma pacífica, mas firme, pregar todo o conselho de Deus e tratar de assuntos polêmicos e difíceis com mansidão e firmeza, em suas igrejas locais ou em outros fóruns apropriados.

Mas hoje o que parece prevalecer é o relativismo e o politicamente correto, onde ninguém quer se expor ou se desgastar em nome da verdade. 

MC: Em sua opinião, quais são os principais problemas estruturais que envolvem os movimentos que enfraquecem o cristianismo? A má formação teológica de pastores e líderes seria uma delas?

Augustus Nicodemus: Não tenho a menor dúvida. Além disto, a influência do liberalismo teológico nos seminários e escolas de teologia, e o crescimento do pragmatismo e do misticismo neopentecostal que deseja um crescimento numérico a qualquer custo.

Acima de tudo, faltam-nos expositores bíblicos, pastores e mestres que preguem a Palavra com clareza e competência. O povo de Deus ouve e obedece à Palavra, quando ela é ensinada com fidelidade e constância.

Grande parte dos pastores são contadores de experiências e que usam a Bíblia como pretexto para suas falas. 

MC: “Polêmicas na Igreja – Doutrinas, práticas e movimentos que enfraquecem o cristianismo”. De que forma o livro se propõe a responder às necessidades urgentes da igreja cristã evangélica no Brasil?

Augustus Nicodemus: O livro reflete alguns dos temas que têm sido objeto de preocupação e discussão dos evangélicos nas redes sociais. Minha expectativa é que este livro traga alguma luz sobre estes temas. 

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